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Reprodução de Entrevista - Época Negócios: O Bill Gates brasileiro?

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Reprodução de Entrevista - Época Negócios: O Bill Gates brasileiro?

[Exemplo de Vida - Tzedaká] Motivado pelo judaísmo, Elie Horn, o bilionário superdiscreto à frente da construtora Cyrela, quer iniciar uma nova era na filantropia brasileira ao doar mais da metade de seu patrimônio. O destino do dinheiro, por enquanto, só Deus sabe


Elie Horn quer fazer história. O homem por trás da Cyrela, uma das maiores construtoras do país, pode se tornar o maior filantropo brasileiro. Inspirado no judaísmo e nos americanos Bill Gates e Warren Buffett, que doaram boa parte do patrimônio para caridade, Horn promete fazer o mesmo. “No fim da vida, mais da metade do que tenho irá para obras de filantropia”, diz ele, que figura entre os homens mais ricos do mundo, com fortuna estimada em US$ 2,2 bilhões. Judeu fervoroso, Horn é um dos maiores doadores de sua comunidade. Além disso, cultiva hábitos controversos, como cobrar multas de R$ 50 dos executivos da Cyrela que se atrasam para reuniões.

Respeitando o preceito da discrição, uma das bases de sua religião, o empresário faz mistério sobre o destino das doações. É sabido que partem do seu bolso, por exemplo, os recursos para iniciativas como o Kiruv (em hebraico, aproximação), que fornece educação religiosa e moral para cerca de 500 adolescentes e suas famílias, e o Ieladim (criança), que financia bolsas de estudos para crianças carentes. Mas esses são dois exemplos do que, ao que tudo indica, pode ser o início de uma nova história. Horn também diz que é necessário ter controles. “A caridade é como os negócios: tem de ter resultados”, afirma.

Elie Horn rompeu seu tradicional silêncio com a imprensa – o que ocorreu raras vezes ao longo de seus 64 anos – e deu a seguinte entrevista a Época NEGÓCIOS.

>>> Qual a origem do seu interesse pela filantropia?_É uma coisa um pouco espiritual. Há um Deus, a Criação, o ser humano, uma missão, um destino, uma eterninade... Quem não faz filantropia vegeta neste mundo. E vai para um mundo ainda mais pobre do que o lugar de onde veio. A única forma de levar alguma coisa positiva é fazer o bem nesta Terra e levar isso junto com você para outro mundo.

>>> Desde quando o sr. se envolve com ações de caridade?_Desde o dia em que me dei por gente. Lembro de um evento quando era jovem em que arrecadei alguns cruzeiros para dar aos pobres. Fora isso, meu avô teve um internato para órfãos e minha mãe sempre me deu ensinamentos de moral. Meu pai, pouco antes de morrer, doou 100% do pouco que ele tinha para caridade. Tenho bons exemplos em casa.

>>> A história de seu avô não ocorreu no Brasil._Não. Na Primeira Guerra Mundial, ele abriu um orfanato na Síria para 2 mil ou 3 mil órfãos cujos pais morreram na guerra. Eu não o conheci, mas minha mãe sempre falava dele, por isso sua história ficou na minha memória. Ele foi uma pessoa nobre e boa, que fez muito pelos órfãos.


>>> Como se dá na prática seu envolvimento com a filantropia?_
O ideal é doar tempo e dinheiro, mas cada um doa o que pode. Eu doo “x” horas por semana e “x” reais por ano. Não vou te falar quanto porque é um pouco íntimo, mas no fim da vida mais da metade do que tenho irá para obras de caridade.

>>> O sr. já abriu a sua casa para eventos de caridade. Com que frequência isso acontece?_O último evento lá em casa aconteceu há cerca de dois anos. Mas tenho participado de outros encontros feitos em parceria com autoridades públicas, em que arrecadamos um bom dinheiro para projetos patrocinados pela prefeitura e pelo estado de São Paulo. Fora jantares particulares, feitos por nós e terceiros.

>>> Existe algum empresário que serve de inspiração para o sr. nessa área?_Estive recentemente num café da manhã da Comunitas, ONG da Renata Camargo de Nascimento [herdeira do grupo Camargo Corrêa] para um ato de bem. Lá dei três exemplos que me norteiam. Um é o Bill Gates, que doou grande parte de sua riqueza a obras de caridade e que dedica não só dinheiro, mas também tempo. O outro herói é Warren Buffett, que também vai doar quase tudo. O terceiro é Amador Aguiar, da Fundação Bradesco, que deu vida a mais de 500 mil estudantes. São três heróis. O que peço é para me aproximar um pouco deles.

>>> Quais são as áreas que o sr. prioriza ao decidir o destino das doações?_No começo, pensava muito na questão da pobreza. Depois comecei a pensar que se a gente aproximasse as pessoas de Deus não haveria estupro, nem assassinatos. Portanto, a formação moral é fundamental. O mundo educado, o mundo moral, é o mundo que não tem mal. Ou, diante dele, o mal diminui de forma bastante rápida. Por isso, em primeiro lugar, hoje invisto na educação moral. Aí está o futuro.

>>> Para o sr., é importante que quem recebe o dinheiro tenha alguma ligação com a sua religião?_
Não é essencial, mas também é importante. A nossa obrigação é com toda a humanidade. Você tem de ajudar o próximo, mas também tem de ajudar a humanidade. A obrigação do ser humano na Terra é ajudar todos.

>>> O sr. acompanha se o dinheiro foi bem empregado?_
A evolução consistiria em checar melhor. Como numa empresa, é preciso ter controles. Sem controles, é difícil doar muito. Então, é fundamental criar um mecanismo de controle e eficiência para que seja possível doar mais. A caridade é como os negócios: tem de ter resultados.

>>> O sr. decide sozinho quais serão as entidades que vão receber o dinheiro ou existe um grupo para ajudá-lo?_No começo decidia sozinho, mas depois passei a contar com algumas pessoas que me ajudam a tomar as decisões. Isso vai aumentar, porque é impossível fazer tudo sozinho.


>>> Quem ajuda são empresários ou pessoas do terceiro setor?_São profissionais vindos dos dois setores.

>>> Poderia citar alguns nomes?_Prefiro não dizer.

>>> No Brasil, fala-se que faltam estímulos para que os empresários invistam mais em filantropia._
Estamos no Brasil e temos de nos adaptar às leis do país. De todo modo, se o governo desse mais estímulos, haveria muito mais doações. Atualmente, 60% do povo americano faz algum tipo de caridade. É um número colossal. No Brasil há poucos “porcentos”. Mas isso é questão de tempo e evolução. Um dia, tenho certeza que a gente chega lá.

>>> Quais são os maiores obstáculos para que os empresários façam mais doações?_
A única moeda conversível e interplanetária entre os mundos espiritual e físico é o bem. Essa é a única que não tem barreiras e não tem banco central. O resto fica aqui. Então, qualquer pessoa que seja inteligente e com bom senso vai pensar: “Por que vou levar meu dinheiro para o túmulo ou deixar para alguém que vai torrar tudo?”. Se você deixar R$ 100 para o seu filho torrar, o que se ganha com isso? Nada. É muito melhor doar a maior parte para obras de caridade, dando vida para muitas pessoas, milhares de pessoas.

>>> Suponho que o sr. já tenha conversado sobre isso com os seus filhos._
A minha família aceita totalmente e me estimula a fazer o bem em vida, e não depois da morte.

>>> O sr. cobra os seus filhos para que façam isso também?_
Eles viram isso em casa a vida inteira, como eu vi com o meu pai. Tanto que o fato de que vou doar uma parte dos meus recursos não se discute dentro da minha casa. Todo mundo sabe que a maior parte não irá para eles.

>>> Para o senhor, como foi quando o seu pai decidiu doar o patrimônio?_
Foi a maior benção e o maior exemplo que tive na vida. Vindo do meu pai, fiquei muito contente.

>>> Ele também era empresário?_
Pequeno empresário. Quando ele morreu eu tinha 35 anos.

>>> Como é a sua rotina? O senhor ainda marca reunião com a mesma pessoa às 7 horas da manhã e às 10 horas da noite?_
Sim. Nada mudou. Minha rotina é massacrante.

>>> O que o sr. costuma fazer no Shabat [dia de descanso para os judeus, que se inicia no pôr do sol de sexta-feira e vai até o dia seguinte]?_
No Shabat só trato de assuntos espirituais e não faço negócios. Nesse dia me espiritualizo, este é o alimento da semana. Os negócios são cativantes. Se você não se espiritualiza, você fica preso na matéria. Para fugir da matéria um pouquinho, é preciso se espiritualizar.

>>> O sr. diz que gosta de ler. Há algum tipo de leitura para essas ocasiões?_
São leituras espirituais. Tenho mais livros do que tempo para ler. Adoro economia e história, mas infelizmente minha vida não me permite ler muito. Durante a semana mal tenho tempo para jornais e revistas, e quando estou em férias leio livros. Me faz falta. Leitura é o maior prazer que tenho na vida.

>>> Recentemente o sr. falou que a melhor estratégia para atravessar a crise seria ficar quieto. Esse tem se mostrado um bom caminho?_
Não, eu errei nessa crise. Fiquei com medo de uma crise mundial e me retraí bastante. A crise não veio ou mal veio. Não enxerguei isso e, até retomar, custou um pouco. Mas paciência. Eu errei.

>>> Como deve terminar este ano para a Cyrela?_
Deve terminar bem. Mas, vem cá, a entrevista não é sobre filantropia?

>>> Uma última pergunta. É verdade que o sr. cobra uma multa de R$ 50 dos executivos que chegam atrasados e que esse dinheiro vai para filantropia?_
Isso é verdade.

>>> E eles tomam muita multa?_Eles dão risada. Mas eu nunca tomei, porque nunca chego atrasado.

>>> Muito obrigado pela entrevista._
Deus te abençoe.



ELIE HORN

Idade_64 anos
Origem_Alepo, na Síria
Formação_Direito
Carreira_Em 1978, fundou a Cyrela, uma das maiores incorporadoras e construtoras do país, cujo valor de mercado está em R$ 10 bilhões
Fortuna pessoal_US$ 2,2 bilhões


[ Fonte: Época Negócios - Reportagem por Robson Viturino - Reportagem / Cyrela - 29/12/2010 - http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI198863-16642,00.html ]

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