Domingo 23 de febrero de 2025 • 25 Shevat 5785 • כ"ה שבט ה' תשפ"ה |
Interessante analise política da VEJA em um dos blogs mais acessados do Brasil por Reinaldo Azevedo...
Estou aqui me penitenciando porque havia feito anotações para escrever um texto rogando aos céus — da história! — que Barack Obama não fizesse um discurso endereçado ao povo muçulmano que tivesse como centro a paz, ou a guerra, israelo-palestina. “Garrei” numa leitura durante a madrugada, lá me foi o tempo, e acabei não escrevendo. Pois Obama fez justamente o que eu mais temia: a paz no Oriente Médio tem, ele assegura, como ponto fulcral a criação do estado palestino, segundo as fronteiras de 1967.
É a primeira vez que a questão é posta nesses termos pelo governo americano. Agora, sim, Obama fez um discurso “histórico” — entrará para a história da infâmia e já vou dizer por quê. A ser verdade que a paz no Oriente Médio depende de se restabelecerem as fronteiras de 1967, tem-se que ou Israel cede a essa exigência ou será o responsável por tudo o que de ruim aconteça na região — e no mundo. Podem espernear com o que vem agora, não ligo: Hitler também dizia que, se a Alemanha fosse destruída um dia, seria um sinal de vitória dos… judeus. Não estou “comparando” uma personagem a outra; estou apontando o perigoso reducionismo de Obama.
Obama foi estupidamente ousado e errado: “No momento em que o povo do Oriente Médio e do Norte da África está se livrando do peso do passado, o esforço por uma paz duradoura [no Oriente Médio], que ponha fim aos conflitos e atenda às reivindicações, é mais urgente do que nunca”.
É mesmo?
Algumas perguntas óbvias: o que uma coisa tem a ver com a outra? Qual é a relação direta entre a emergência de movimentos ditos democratizantes no mundo muçulmano e a criação de um estado palestino nas fronteiras de 1967? Nenhuma! Se Israel cedesse à reivindicação amanhã, o terrorismo islâmico desapareceria? Não! Israel seria reconhecido por aqueles que ainda hoje dizem querer destruí-lo? Não! Qual é a relação entre o jihadismo e a questão israelo-palestina? Nenhuma! Obama criou um bode expiatório para a sua desastrada política no Oriente Médio: Israel. Se a paz não triunfar, “é porque os judeus terão vencido”, como queria o facinoroso.
Oh, Obama não é exatamente um imbecil. Reconheceu que alguns problemas continuariam a existir: o que fazer com Jerusalém? E os ditos “refugiados”? Bem, já que Israel foi tratado como invasor — desconsiderando-se os motivos que o levaram a ocupar os territórios que hoje ocupa —, o passo seguinte seria declarar o fim do estado judeu. Afinal, os árabes mantiveram armada desde sempre a bomba demográfica, não é? Uma criança nascida hoje na Jordânia ou no Egito, cujo bisavô (já dá para ser tataravô, façam as contas) seja uma “refugiado” palestino de 1948, continua a ser um palestino porque os países árabes lhe negam a cidadania, como negaram a seu pai, a seu avô, a seu bisavô, a seu tataravô.
Ocorre que Obama, o grande líder, o demiurgo dos sonhos de Arnaldo Jabor — hoje ele vai ao delírio — está cansadinho. Como se fosse um George W. Bush (aquele inventado pelos esquerdopatas, não o de fato), declarou: “A comunidade internacional está cansada — uma boa tradução seria “de saco cheio” — de um processo interminável, que nunca produz um resultado”. Entendi. Quando a comunidade internacional se cansa, então se pede a Israel que assuma a responsabilidade de produzir a paz.
Obama e os Estados Unidos foram surpreendidos pelas insurreições no países árabes. Tenta colocar todas elas debaixo do mesmo guarda-chuva da “Primavera Árabe”, mas sabe que isso é falso. Com 15 dias de protesto no Egito, entregou Hosni Mubarak, aliado histórico, de bandeja. Apóia, como um doidivanas, um grupo coalhado de jihadistas na guerra civil da Líbia; censura Bashar Al Assad na Síria pela truculência, mas torce para que ele controle a revolta porque os sunitas que querem derrubar o tirano são uma incognita; pede respeito à oposição no Bahrein, mas, indiretamente, dá suporte ao porrete que aquele governo desce no coco dos xiitas pró-Irã. Pede calma ao ditador do Iêmen, mas sabe que a chance de o país cair nas maos de extremistas — a Al Qaeda domina uma parte do território — é imensa. Vê-se às voltas com a crescente hostilidade aos americanos no Paquistão; no Afeganistão, a intervenção está longe do fim; silencia sobre a ditadura saudita porque ali, de fato, é a fronteira do fim do mundo…
Tudo somado e subtraído, multiplicado pela mistificação e dividido pela metafísica influente, Obama chegou a uma conclusão: é preciso que Israel retorne às fronteiras de 1967, garantindo, claro!, a segurança de Israel, num estado desmilitarizado etc e tal. Se o fizesse, o imbróglio acima seria solucionado num passe de mágica.
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, já reagiu à fala de Obama e descartou a proposta. A Folha, por exemplo, sintetiza assim a recusa: “[Netanyahu ] descartou a hipótese de devolver aos palestinos as áreas invadidas pelo Estado judeu em parte da Cisjordânia, faixa de Gaza, Jerusalém Ocidental e Golã.” Como se nota, a tentativa de países árabes de destruir Israel em 1967 e 1973 se transformou numa “invasão do estado judeu”. Mais ainda: eu não sabia que um eventual estado palestino também ocuparia Golã… Acho que nem os sírios sabem disso. Certamente não concordariam…
Os otimistas destacariam que Obama desestimulou os palestinos a fazer uma declaração unilateral de independência e coisa e tal: “As ações simbólicas para isolar Israel nas Nações Unidas em setembro não vão criar um estado independente. Os líderes palestinos não vão alcançar a paz ou a prosperidade se o Hamas insiste em um caminho de terror. E os palestinos nunca vão atingir a sua independência negando o direito de Israel de existir.” Certo! Dado o contexto, mero tributo do vício à virtude. A besteira essencial foi feita. Doravante, o terrorismo islâmico e as revoltas muçulmanas, assumam a coloração que assumirem, tomem a direção que tomarem, terão uma causa, uma raiz: a não-existência de um estado palestino segundo as fronteiras de 1967…
Em suma: segundo Obama, deveremos sempre perguntar aos judeus por que não há paz no mundo.
Noto, para encerrar, que os israelenses ocupavam o Sul do Líbano e saíram de lá. O Hezbollah tomou conta da região e a utiliza como plataforma de ataque a… Israel. Os israelenses ocupavam militarmente a Faixa de Gaza e saíram de lá, retirando os assentados na porrada. Os Hamas toma conta da região e a utiliza como plataforma de ataque a… Israel.
Encerro o meu artigo com o que disse no domingo, no hotel Copacabana Palace, num evento com a comunidade judaica, em comemoração as 63 anos de Israel: oferecer terras em troca da paz é uma proposta estúpida, suicida. A paz vem primeiro. Os palestinos desistam de vez do terrorismo, reconheçam o direito de Israel de existir em paz e ponham fim às relações com notórios financiadores do terror, como Irã e Síria, e então se pode falar em negociação.
Obama deveria saber que não existe paz “a qualquer custo”, porque o “custo qualquer” pode significar, no tempo, o fim de Israel, ainda que pela via… pacífica. Não vai acontecer — não aconteceria de modo pacífico desta vez…
O mundo saúda o “discurso histórico”? Pois eu o lamento e o considero moralmente justificador do terrorismo. Não estou nem surpreso nem decepcionado. Constato, aliás, que as minhas reservas todas a Obama foram plenamente recepcionadas em seu discurso. O presidente americano usou o povo judeu como moeda de troca na sua “negociação” com o mundo islâmico. Tudo bem pensado e pesado, por que não o faria?
Por Reinaldo Azevedo
[ Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/obama-usa-povo-judeu-como-moeda-de-troca-na-sua-%E2%80%9Cnegociacao%E2%80%9D-com-o-mundo-islamico/ em 19/05/2011 ]