Lunes 24 de febrero de 2025 • 26 Shevat 5785 • כ"ו שבט ה' תשפ"ה |
Um interessante caso de reflexão na Halachá elaborado por Guefiltemail baseado em palestra de Rav Itzchak Zilberstein Shlita, Rav de Ramat Elchananm Bnei Brakm Israel.
TÍTULO: O TERNO
CASO
Ariovaldo era um comerciante. Certo dia, ele recebeu um container abarrotado de ternos e ele precisava de alguém para ajudá-lo a separar e guardá-los. Naquele momento, Cassiano estava passando por lá e Ariovaldo lhe ofereceu um terno se este lhe ajudasse a guardá-los. Ele concordou de imediato e após o trabalho, Ariovaldo lhe deu um terno "de primeira" que valia $500!
Após duas semanas, Ariovaldo recebeu um novo container e novamente precisou de alguém para ajudá-lo. Desta vez, quem estava passando por lá era Sandoval, amigo de Cassiano. Ariovaldo perguntou a ele se gostaria de ajudá-lo com os ternos. Sandoval perguntou qual seria o pagamento pelo trabalho e Ariovaldo respondeu que iria receber como seu amigo Cassiano havia recebido. Ele topou e trabalhou pesado o dia inteiro.
Ao término do trabalho, Ariovaldo entregou dois ternos para Sandoval! Ele estranhou muito o porque dele lhe ter dado dois ternos, porém após uma pequena reflexão, o assunto ficou claro – os dois ternos que recebeu eram de "segunda categoria". Então Sandoval dirigiu-se a Ariovaldo e pediu para que ele os trocasse por um terno "de primeira", dizendo que ele havia dito que o pagamento seria como o de Cassiano.
SOLUÇÃO
Está escrito na Torá que quando Iosef encontrou-se com os irmãos no Egito, presenteou-os dando para cada um deles uma roupa à exceção de Biniamin, a quem presenteou com cinco vestimentas. Em relação a isso, nossos Sábios fazem a seguinte pergunta na Guemará (Meguila 16a): "Como pode ser que justamente Iosef, que sofreu na pele a inveja de seus irmãos (ao verem que ele havia recebido uma túnica especial de seu pai) possa ter causado com que tivessem inveja de Biniamin?
Os comentaristas da Guemará perguntaram: A questão permanece, pois ainda há a suspeita que os irmãos ficassem com inveja, uma vez que no final das contas veriam que Biniamin recebeu cinco roupas; e além do mais, por acaso eles teriam que entender a pista que Iosef quis transmitir a Biniamin?!
O Netziv responde em seu livro "Maromei Sadé" que as cinco vestimentas que Biniamin recebeu eram de qualidade inferior à recebida pelos irmãos, e todas as cinco juntas tinham o mesmo valor da que receberam, e por isso, no passuk está escrito em relação aos irmãos, a palavra "חליפות" (vestimentas) na forma completa e em relação a Biniamin está escrito "חליפת" incompleto, faltando uma letra. E o motivo dele ter dado cinco vestimentas a Biniamin foi para lhe dar uma pista do futuro, como explicitado na Guemará. Portanto, os irmãos não tinham o que invejar, pois todos receberam igualmente.
Sendo assim, também no nosso caso talvez se aplique o mesmo raciocínio. Uma vez que os dois ternos de segunda tinham o mesmo valor de um terno de primeira, então Sandoval não tem o direito de reclamar com Ariovaldo, uma vez que recebeu o mesmo valor.
SERA?!
No entanto, quando este caso foi trazido diante do Rav Iosef Shalom Eliashiv Shelita, ele disse que parece ser distinto da prova trazida, pois no nosso caso trata-se de uma garantia que foi dada do patrão para o empregado, e esta garantia era que ele se comprometia a pagar um terno de primeira; e dois ternos de segunda não valem para o referido empregado como um terno de primeira; e mesmo que ele consiga vender os dois ternos de segunda, ele não conseguirá, com o dinheiro obtido, comprar um terno de primeira. Alem do mais, toda a condição dele trabalhar era a de receber um terno de primeira, e portanto, é plausível dizer que o empregador não pode pagá-lo com dois ternos de segunda.
Já na Guemará de Meguila, não havia nenhum "comprometimento", e sim, todo o objetivo de Iosef era somente o de se preocupar para que não houvesse inveja, e se o "valor" recebido por cada um foi o mesmo, de fato não houve lugar para inveja!
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Para pensar e refletir
Está escrito no livro de Provérbios (Mishlei 29/19) do Rei Salomão, “Assim como a água reflete a face de uma pessoa, também o coração do homem reflete o do seu semelhante.”
Ao observarmos nossa face refletida na água, se ela está alegre a vemos alegre, se está triste a vemos triste. O mesmo ocorre com o que sentimos em relação ao nosso semelhante, se sentirmos amor pelo próximo, receberemos de volta este amor, se o odiarmos, ódio é o que receberemos de volta.
Rav Abraham Twerski trás a seguinte pergunta, “Se é assim que funciona, por que muitas vezes não percebemos essa reciprocidade?” E responde, “O Rei Salomão se refere ao reflexo na água e não no espelho, e entre eles há uma grande diferença, pois o espelho reflete um objeto posicionado à distância dele, enquanto que a água só reflete ao aproximarmos o objeto para perto dela. A proximidade e a distância tem um impacto profundo num relacionamento. Portanto, para que obtenhamos esta reciprocidade, temos que nos aproximar, diminuir a distância em relação ao próximo, e aí veremos com claridade a concretização do ensinamento deste Provérbio, tanto em nossos relacionamentos pessoais e conjugais como também no nosso relacionamento com Hashem.”
[ Fonte: Semanário Guefilte Mail Parashat Vaeirá 5772 - (Guefiltemail@gmail.com), baseado em aulas e palestras de R' Izchak Zilbernstein de Ramat Elchanan, Bnei Brak, Israel ]