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HISTORIA: O PAPA JUDEU QUE RENUNCIOU E DESAPARECEU

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HISTORIA: O PAPA JUDEU QUE RENUNCIOU E DESAPARECEU

Com as notícias atuais (02/2013) sobre a renuncia do Papa, lembramos de uma história parecida acontecida em 1008 (~1000 anos atrás) onde o Papa Victor III ou Felix, que era Judeu (nome: Elchanan) também renuncia e desaparece, conheça esta emocionante História.


O PAPA QUE DESAPARECEU

Durante o ano de 1086 o trono papal permaneceu vago. Depois foi eleito um novo Papa, que tomou o nome de Victor III. De sua origem, nada se sabia. Após um breve reinado de dois anos, desapareceu misteriosamente. O relato que se inicia, segundo uma crença bem difundida, refere-se ao Papa que foi aquele a quem chamaram “o Papa judeu”.


A antiga cidade de Mainz, nas margens do Reno, era célebre pelos grandes e santos rabinos que ali viviam. Há cerca de novecentos anos, residia lá um jovem erudito no Talmud e poeta religioso, que adquiriu grande notoriedade, tanto pela sua piedade e erudição, como por seus poemas religiosos. Chamava-se Rabi Shimon Hagadol (o Grande).

Certo dia em que se encontrava concentrado na composição de um novo poema, aproximou-se dele silenciosamente seu filho Elchanan, de quatro anos e viu o papel que se encontrava sobre a escrivaninha.
— Oh, papai! — exclamou o pequeno — escreveste meu nome no início de este poema!
— Sim, querido; este poema começa com as palavras: E-l Chanan Nachalató que significam: “D-us está cheio de graça para com seus filhos”. Observe, cada judeu tem parte na herança de D-us, e quando algum de nós se afasta de seu caminho, ou seja, quando se alheia da vida religiosa judaica, D-us em Sua grande misericórdia para com Seus filhos, os ajuda a retornar.

Os olhos do pequeno se encheram de lágrimas. — Jamais me afastarei do caminho. Nunca me separarei de D-us —, disse com determinação. E repetindo várias vezes em voz alta as três primeiras palavras do poema, saiu da sala.

Dias mais tarde, o pequeno Elchanan caiu gravemente enfermo. Tinha febre muito alta e apenas respirava; estava próximo do estado de coma.

De vez em quando abria os olhos, mas não reconhecia ninguém. Caiu em seguida num estado de sonolência, durante o qual delirava. Às vezes repetia as palavras El Chanan Nachalató e um sorriso iluminava seu rosto. Seus pais choravam e rogavam com fervor por seu restabelecimento.

Também Margarita, a empregada cristã, chorava, pois amava esse menino que, estando são, era tão belo e inteligente. Só lamentava que fosse judeu e guardava a esperança de convertê-lo algum dia ao cristianismo. Por isso, o pensamento de que pudesse morrer sendo judeu a atormentava. Decidiu então que, se o menino recobrasse a saúde o raptaria para levá-lo a um mosteiro que ela conhecia e onde cresceria como um bom cristão.

Aproximava-se a festividade de Pêssach e Rabi Shimon jejuava e orava para que seu filho bem amado recuperasse a saúde, podendo assim participar do Sêder (cerimônia e ceia ritual da primeira e segunda noite de Pêssach) com o resto da família. O milagre se produziu: como resposta a seus rogos, começou a melhorar o pequeno Elchanan.

Chegou a noite do Sêder. O menino ainda estava fraco para participar dele, mas para que, ao menos, assistisse à ceia, sua cama foi transportada à sala de jantar. Com voz apenas audível pode fazer as Quatro Perguntas. Os olhos de seus pais se encheram de lágrimas, desta vez lágrimas de gratidão e alegria. O menino estava finalmente em vias de recuperação. No dia seguinte, o pai e a mãe foram à Sinagoga, deixando o menino com Margarita. Ao término das orações regressaram, constatando desesperados que o pequeno Elchanan e a empregada tinham desaparecido.

Preso de grande inquietação, Rabi Shimon partiu em sua busca. Foi de porta em porta fazendo a mesma pergunta: — Alguém viu meu filho ou a criada? Em todos os lugares foi recebido com sincera simpatia, mas ninguém havia visto o menino nem a criada. Margarita tinha levado o menino ao mosteiro, onde era esperado, já que o Superior estava a par do plano da empregada e havia ajudado a realizá-lo. Havia uma cama preparada para o menino; débil como estava, tinha tomado frio durante a viagem e o atacou uma febre tão alta como no começo de sua enfermidade. Novamente temia-se por sua vida, mas Margarita cuidou-o e ele curou-se.

A recaída fora tão séria que em conseqüência dela perdeu a memória. Esqueceu totalmente que era judeu. Um monge ocupou-se de sua educação, dando-lhe lições diárias da Bíblia e preparando-o para entrar na ordem religiosa. Elchanan, ou mais precisamente Félix (pois este era o nome que lhe deram) seria um monge como os demais do mosteiro. Muito bem dotado para o estudo, não tinha dezoito anos quando já sabia tudo o que o monge podia-lhe ensinar.

Então foi enviado a Roma para realizar estudos superiores. Ascendeu todos os escalões que levavam aos mais altos cargos eclesiásticos. O Papa Gregório VII o nomeou bispo, depois cardeal.

Com freqüência o enviou como representante do Papado para missões diplomáticas. Um ano depois da morte de Gregório VII (longe de Roma combatendo contra o imperador Henrique IV da Alemanha) o cardeal Félix foi eleito Papa. Tomou o nome de Victor III.

Um pensamento não deixava de atormentá-lo: quem eram seus pais. O segredo do seu rapto dos pais judeus fora zelosamente guardado. Fizeram-no crer que sendo pequeno, foi abandonado por sua mãe na porta do mosteiro.

Quando era cardeal tratou de perguntar sobre o assunto no mesmo mosteiro em que tinha crescido. Tudo o que pode saber é que o velho monge Tomás, o único que podia dar-lhe mais informações, já havia morrido. Fez outras tentativas, tão infrutíferas como a anterior. Acabou resignando-se; renunciou a toda esperança de conhecer sua origem.

Certo dia, o Papa Victor III recebeu uma petição do Rabino de Mainz acompanhada de um urgente pedido de audiência; o motivo da mesma era um decreto tão cruel como injusto, contra a comunidade judaica.

Bondoso por natureza e com um grande sentimento de justiça o Papa concordou de imediato com essa audiência. No dia marcado, o velho Rabino de Mainz e outros dois dirigentes da comunidade, apresentaram-se diante de Victor III. O Rabino falou da calamidade que sofriam seus correligionários, perseguidos pelo bispo local pela única razão de serem judeus. O Papa sentiu-se muito comovido pelo tom sincero do Rabino, ficando profundamente impressionado por seus olhos negros e penetrantes, seu rosto patriarcal e sua longa barba prateada. Prometeu fazer anular o decreto do bispo e enviar-lhe uma advertência para que mudasse de atitude com respeito à coletividade judaica de Mainz. Finalizada a audiência e antes que a delegação se despedisse do Papa, este pediu ao rabino que voltasse no dia seguinte a vê-lo.

O velho rabino apresentou-se sendo calorosamente recebido pelo Papa. Entabularam um animado diálogo sobre temas que apaixonavam a ambos; pareciam velhos amigos, não duas pessoas que haviam se conhecido na véspera. O rabino ficou surpreso ao constatar quanto sabia seu interlocutor sobre a Bíblia, hebraico e história judaica. Este, por sua vez, demonstrou muito interesse pela vida e pelas atividades espirituais do rabino. Ao saber que, além de seus estudos, sua ocupação favorita era compor poemas religiosos, o Papa pediu que ele mostrasse alguns. Notou repentinamente tristeza no rosto do rabino.

— Cada vez que me sento em meu escritório para compor um poema, uma ferida mal cicatrizada se reabre no meu coração. Não posso deixar de recordar um poema que compus há muito tempo para um filho que me foi raptado quando tinha quatro anos...

Os olhos do rabino se encheram de lágrimas, que rodaram em seguida sobre sua barba prateada. O Papa sentiu-se muito comovido.
— Posso ver esse poema? — pediu-lhe com tom de grande simpatia.

O rabino estendeu-lhe um rolinho de pergaminho velho e desbotado.
— É o que mais quero no mundo... — disse.

O Papa o desenrolou cuidadosamente e leu: “E-l Chanan Nachalató”. Repentinamente o pergaminho escorregou de seus dedos e caiu sobre a mesa. Ficou pálido.

— Pai, pai querido! — exclamou precipitando-se nos braços do velho rabino.

— Meu filho, meu filho! — murmurou Rabi Shimon, notadamente emocionado. Depois cobriu o rosto com as mãos, e acrescentou:

— Como posso chamá-lo de meu filho agora? Não és mais meu filho.


— Oh Pai, eu sou! Por acaso não me explicaste, em tempos distantes em que compôs este poema, que D-us está cheio de misericórdia para com seus filhos, e que se um judeu se afasta de seu caminho, D-us com seu grande amor para com os Seus filhos, os ajuda a retornar a Ele?

— Com efeito, são minhas próprias palavras. Que tão bem as recordas! Mas, acaso também te lembras de tuas palavras daquele dia?

— Agora recordo tudo muito claramente. Perdi a memória, não é minha culpa, pai. Agora que a recobrei, posso voltar a ti. Todas as honras e as riquezas da terra nada significam para mim. Quero voltar para ti, ao meu povo, a D-us!

Dias mais tarde os cardeais reuniram-se no Vaticano, mas o Papa estava ausente. Esperaram-no em vão. Procuraram-no; tinha desaparecido. Jamais foram encontrados seus rastros.

Alguém disse que tinha subido ao céu. Outro arriscou que talvez tenha ido viver no exílio e na pobreza para resgatar os pecados dos cristãos. A ninguém ocorreu que o Papa abandonou seu glorioso trono para juntar-se ao seu povo, o perseguido povo judeu.

Anos mais tarde, quando seu sucessor Urbano II empreendeu a primeira Cruzada em 1095, hordas fanáticas de cruzados atacaram as comunidades judaicas das margens do Reno, roubando e matando sem piedade. Rabi Shimon de Mainz e seu filho Elchanan, que secretamente tinha retornado à fé judaica, se encontravam entre as vítimas que morreram “Al Kidush Hashem” — pela Santificação do Nome de D-us.


Contribuiu com a História: Rab. Y. Nurkin


FONTES:

- Maasé Abot, Relatos Chassídicos, Editorial Bnei Sholem, Chabad Lubavitch Argentina.

- Visão Judaica - http://www.visaojudaica.com.br/Maio2007/artigos/15.html

- Chabad Souther Ohio - http://www.chabadoh.org/page.asp?pageID=%7BD5749296-752F-4578-99D5-C833AF5151D1%7D

Lechaim Weekly - http://www.lchaimweekly.org/cgi-bin/calendar?holiday=pesach10706

- Talk and Tales (inglês)


VERSÃO EM INGLÊS


The Pope That Disappeared

In the ancient city of Mainz, there lived a young scholar named Rabbi Shimon Hagadol. He became renowned for his beautiful religious poems, known as piyutim. One day as he was composing a new poem, Elchanan, his little four-year old son, came in and looked at the paper.

"Father, you've written my name in the beginning of this poem!"

"Yes, my son. This verse, 'E-lchanan nachalato' means, 'G-d is gracious unto His heritage.' You see, every Jew has a share in G-d's heritage. If a Jew strays (G-d forbid) from this heritage, from the Jewish way of life, G-d, in His gracious love of His children, helps him to return." A tear appeared in the boy's dark little eyes. "I will never stray from my heritage," he exclaimed.

A few days later, little Elchanan fell ill. His fever rose and he lapsed in and out of consciousness. While his parents wept and prayed for his recovery, their Christian maid, Margaret, also wept, for she loved the bright little boy. She had always harbored the hope that one day she might convert him to Christianity. Now she vowed that if he recovered, she would take him to a monastery where he would grow up as a Christian.

By the time Passover arrived, the child had recovered, and although he was still weak, he managed to join in the family seder and even ask the Four Questions. The following morning, his parents went off to the synagogue, leaving Elchanan with the maid. When they returned several hours later, they were stunned to find that both Elchanan and Margaret were gone. Rabbi Shimon searched for the boy door to door, but no one had seen his precious child; he was lost.

Margaret brought the child to the monastery, but in his weakened state, he caught a chill and became even more ill than before, coming down with a raging fever. With the greatest care, Margaret nursed him back to health, but when he recovered, he had completely lost his memory. When he asked about his parents, he was told that he had been left at the monastery door. Eventually, he stopped asking.

The young boy, now known as Felix, was extraordinarily bright and within a short time, he was sent to Rome where he continually rose in the ranks of the Church, becoming a bishop, then a cardinal. When Pope Gregory VII died, Cardinal Felix was elected pope, choosing the name Victor III.

One day, Pope Victor received a petition from the Rabbi of Mainz, pleading for an audience. The Jewish community of Mainz was threatened by a cruel decree put in place by the local anti-Semitic clergy and the rabbi hoped for some justice from the pope. Pope Victor agreed to the audience, and the Rabbi of Mainz arrived. The rabbi recounted the plight of the community, and the pope was greatly moved by his account and agreed to annul the decree. The pope was attracted by the rabbi's stately appearance and dark, penetrating eyes. When the meeting ended, the pope asked the rabbi to return the following day to discuss a religious matter.

The next day, the old Rabbi of Mainz arrived and the pope received him warmly. They engaged in a lively and wide-ranging discussion. When the pope heard that the rabbi had a special interest in composing religious poetry, he asked to see some examples of it. But as the rabbi was about to hand the pope some manuscripts, a tear unexpectedly rolled down the old rabbi's face. "Excuse me, Your Excellency, but these poems always bring up an old sorrow. You see, I once composed a poem in honor of my beloved son who was kidnapped from us when he was only four years old. I carry it with me always."

The pope was deeply touched and asked, "May I see that poem?"

The rabbi handed him a parchment, which the pope carefully unfolded. As he began to read the words, "G-d is gracious unto His heritage," he paled.

"Father, dear father!" he cried as he embraced the old rabbi.

"My son!?" Rabbi Shimon whispered, but then he covered his face with his hands and said, "How can I call you 'son' -- you are no longer my son!"

"Oh no, father," did you not explain to me that G-d is always there to accept his wayward children who stray?"

"Yes, I remember. But do you recall your words to me that day?"

"Father, I was very ill and lost my memory. But now, the shock of being reunited with you has brought it all back to me. Father, I want to return to you!"

Several days later the cardinals assembled to await the pope's arrival at mass, but he never came.

There was much speculation about what could have happened to the Pope. Some said that he had ascended to Heaven. Others suggested that he had adopted a life of hardship and poverty to atone for the sins of Christians. But no one could have imagined that he had forsaken a life of wealth and power to return to his downtrodden and persecuted Jewish brethren.

Adapted from Talks and Tales

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