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Brasil terá de escolher entre o Irã ou os EUA, alerta Peres

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Brasil terá de escolher entre o Irã ou os EUA, alerta Peres

Entrevista:  Posições iranianas são inadmissíveis, diz presidente de Israel em reportagem para o Jornal Valor Econômico. O presidente de Israel, Shimon Peres, adverte o Brasil: "Vocês não podem ser pró-iranianos e pró-americanos".

Com voz grave e fala pausada, o presidente de Israel, Shimon Peres, narra um episódio para exaltar o clima de tolerância no Brasil. "Eu me encontrei com um comitê dos Jogos Olímpicos [de 2016]. Havia quatro cavalheiros - dois judeus e dois árabes", conta. "Fiquei impressionado. Conversei com Abu Mazen [ou Mahmud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina], que também estava lá [no Brasil], e disse: 'Se eles conseguem viver juntos, por que não conseguimos fazer o mesmo'?"

Peres elogia mais de uma vez a convivência pacífica no Brasil, e diz que o mundo aprecia muito essa qualidade. Mas ele, que já serviu três vezes como primeiro-ministro de Israel, uma delas interinamente, também faz uma grave advertência sobre a posição brasileira em relação ao Irã de Mahmoud Ahmadinejad. "O Brasil tem de decidir para aonde vai. Vocês não podem ser pró-iranianos e pró-americanos. Não podem nem ser pró-egípcios e pró-Irã", diz.

O Irã tem uma nova ambição - governar o Oriente Médio "em nome da religião", diz Peres. As posições do governo iraniano, afirma, são inadmissíveis. "Eles dirigem um país que ameaça destruir outro país. Ele [Ahmadinejad] nega o Holocausto; agora, vai aos Estados Unidos e diz que os americanos destruíram as torres gêmeas. Tem de haver um limite para o engano."

O governo brasileiro estaria, então, tomando a direção errada no Oriente Médio? "Eu não digo isso", responde Peres, durante entrevista concedida ao Valor, ao jornal "O Estado de S. Paulo" e às Organizações Globo. "O Brasil tem de ser ouvido nessas questões também. De modo algum estou fazendo acusações. Mas cada um de nós tem de fazer uma escolha", insiste.

Durante o encontro, ocorrido em sua residência oficial - uma casa cercada de jardins no bairro mais elegante de Jerusalém -, Peres conta que perguntou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva se ele havia questionado Ahmadinejad sobre a ameaça de destruir Israel e a negação do Holocausto. "Ele [Lula] disse que conversou, mas em particular."

Lidar com a expectativa de um Irã nuclear, segundo Peres, não é um problema só de Israel. "É de todo o mundo", diz. "Vocês sabem quem está mais preocupado com o Irã? Os árabes." A separação entre o Estado e a religião foi abolida no Irã, argumenta, e há uma preocupação dos países árabes com as pretensões regionais iranianas.

Na concepção do presidente de Israel, a questão não é a bomba atômica em si, mas nas mãos de quem ela está. Mesmo entre os iranianos, argumenta ele, há muita gente preocupada com a possibilidade de que armas nucleares fiquem ao alcance de Ahmadinejad.

Ganhador do prêmio Nobel da Paz de 1994, junto com Yasser Arafat (então líder da Autoridade Palestina) e Yitzhak Rabin (então primeiro-ministro de Israel), Peres faz uma avaliação positiva do relacionamento com os EUA, mesmo com as recentes posições da administração Barack Obama, interpretadas por muitos como um endurecimento em relação ao governo israelense do premiê Benjamin Netanyahu. "Israel e os EUA continuarão amigos, não importa o que houver", diz Peres. "Não precisamos concordar em tudo, mas quando o assunto é a segurança de Israel, diria que 100% dos americanos ficariam do nosso lado."

Em muitos aspectos, a religião é indissociável da questão política em Israel. O apoio da população americana, afirma Peres, "começa com a Bíblia e termina no fato de que Israel é uma sociedade democrática e moral". Ele prossegue: "Não queremos ver o mundo dirigido por ditadores loucos. Chega de Hitler, Stálin e Mussolini. Não somos neutros. Somos um povo com uma base moral - os Dez Mandamentos. Nossa política externa começa com os Dez Mandamentos."

Nascido em 1923 em Vishniev, região que pertencia à Polônia e que hoje faz parte de Belarus, Peres reage com surpresa quando é questionado sobre por que Israel estaria perdendo o apoio internacional. "Quem disse que isso está acontecendo?", responde.

"Há um duplo padrão em relação a Israel", afirma. "Existem países na Europa que nos condenam diariamente, mas nos procuram silenciosamente e dizem: 'Nós temos terroristas e não sabemos o que fazer com eles, nos ajudem!"

Se fala à vontade de relações internacionais, Peres prefere ficar de fora de questões como a guerra cambial. "Não conheço economista feliz", afirma, emendando uma história narrada por Andrei Gromiko, presidente da União Soviética nos anos 80. Gromiko foi embaixador em Washington durante a Revolução Cubana. Numa viagem a Havana, pergunta a Che Guevara como um revolucionário como ele havia assumido a presidência do Banco Central de Cuba. Che explica que Fidel Castro havia chamado "seus rapazes" e perguntado se havia ali algum economista. "E por que você levantou a mão? Você não é economista", disse Gromiko. "É que eu entendi se alguém era 'comunista'", respondeu Che.

O repórter viajou a convite do governo de Israel e da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria

[ Fonte: Valor Online - João Luiz Rosa em 10/Novembro/2010 de Jerusalem em http://www.valoronline.com.br/impresso/internacional/99/334389/brasil-tera-de-escolher-entre-o-ira-ou-os-eua-alerta-peres?utm_source=newsletter&utm_medium=manha_10112010&utm_campaign=informativo , Foto: Bloomberg ]

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