Domingo, 23 de fevereiro de 2025 • 25 Shevat 5785 • כ"ה שבט ה' תשפ"ה |
Parabolas, Histórias, Intrigas da Halachá e Divrei Torá do Semanário Eletrônico Guefilte Mail de Iaacov Orgler de Israel. Leia abaixo seleções interessantes selecionadas pelo autor e compartilhe com seus familiares e amigos na mesa de Shabat.
O COMPRIMIDO
Aconteceu com um professor que sempre "batia de frente" com um de seus alunos. Ele dizia que o menino era inquieto e fazia muita bagunça na sala de aula. Não passava um dia sem que o garoto recebesse um castigo, e às vezes ele era expulso da sala e recebia suspensão de um ou dois dias.
Então, certo dia o professor chamou o pai do garoto e disse: "É impossível continuar assim! Seu filho precisa tomar um calmante para diminuir a hiperatividade! Ele precisa se acalmar para melhorar sua atenção e concentração!" No princípio, o pai tentou convencê-lo que seu filho era uma criança calma e capaz de se concentrar nos estudos por horas a fio, porém o professor se manteve firme. Então o pai iniciou uma chantagem emocional, dizendo que era uma pessoa pobre e não tinha condições de arcar com as despesas do medicamento. Porém o professor continuou "na dele" e disse para o pai pedir esmola para conseguir o dinheiro necessário para a compra do remédio, já que sem a medicação seria impossível manter o garoto na escola.
"Fica frio, eu o enviarei todos os dias para a sala dos professores e pedirei a ele para me preparar um cafezinho, e então ele tomará escondido o remédio que estará no armário." As palavras do professor foram recebidas pelo pai.
Após dois meses, o pai sentou-se com seu filho e perguntou como estava indo nas aulas. O filho respondeu, "Escuta só uma coisa pai, algo de estranho que está acontecendo. Já tem dois meses que há silêncio na sala de aula e o professor não implica nem grita comigo.
" O pai então perguntou, "E qual o motivo para isso filho?"
Então o filho deu uma resposta surpreendente, "O motivo eu não sei, porém o que sei é que a cada manhã o professor me manda para sua sala para preparar um café. Eu chego lá, pego um pequeno comprimido do armário e coloco no copo de café. O professor bebe e fica super tranquilo...."
Ficou claro que quem sofria de inquietude e problemas na concentração era nada mais nada menos que o próprio professor, que compreendeu que o problema era seu. Ele era o culpado e não o aluno. Ele pediu desculpas ao menino, que imediatamente lhe perdoou.
Agora o professor pergunta ao Rav Zilberstein, "Eu estou obrigado a devolver ao pai do menino o dinheiro gasto com o medicamento?"
De acordo com a lei estrita, parece que o professor precisa pagar pelo remédio, uma vez que ficou claro que ele era o culpado e era ele quem precisava do remédio e teve proveito dele. Por outro lado, já que o pai comprou o remédio com o objetivo que seu filho continuasse os estudos com sucesso, foi bom para ele ter uma despesa dessas, e o pai ainda teve dois proveitos, um que seu filho não foi expulso da escola e outro que a partir de agora não "precisa mais tomar remédios!"....
Um determinado rei decidiu construir para si um castelo esplendoroso, como nunca se havia escutado falar. Os ministros procuraram e encontraram um arquiteto muito famoso e talentoso e pediram para que preparasse um projeto para o castelo real. Passado algum tempo, o arquiteto apresentou o projeto que havia realizado para o rei, que maravilhado, o contratou para iniciar a construção de imediato. Apenas uma exigência foi feita pelo rei: que o castelo estivesse pronto no prazo de um ano, quando daria uma grande festa em comemoração ao seu primeiro ano de reinado.
“Não se preocupe,” respondeu o pintor preguiçoso, “eu vou conseguir....”
Após um mês de extenuoso trabalho, os três pintores conseguiram concluir a pintura das três paredes, que ficaram belíssimas, com as cores e desenhos pintados por eles. No entanto, a quarta parede permanecia como antes....
Um dia antes do prazo estipulado pelo rei para a inauguração do castelo, chegou o quarto pintor e preencheu a quarta parede com grandes espelhos, que ao refletirem as outras paredes proporcionavam um belíssimo efeito.
“E qual é a minha recompensa?” perguntou o pintor preguiçoso.
(שיחת חולין של תלמידי חכמים)
O Sefer HaPardes diz que o anjo de fato voltou. Avraham pensou que o anjo retornaria antes que o bebê nascesse ou para o brit-milá. Ao invés disso, o anjo voltou muito mais tarde – ao final da parashá.
Esta é uma lição em providência Divina, de como Hashem direciona Seu mundo. Nós vivemos numa sociedade de informação instantânea. Assim que desejamos saber algo, é só ligar o computador e sabemos. Se queremos contatar alguém, é só pegar o telefone e discar ou apertar o redial. No entanto, não é assim que a vida funciona, não é assim que Hashem trabalha ou como Ele direciona o mundo.
R’Moshe Eisemann contou a história de um certo R’Epstein que deixou a Alemanha antes da guerra e foi morar na Inglaterra juntamente com vários judeus alemães como ele que também foram para lá. Quando estourou a guerra, a Inglaterra mandou todos que tinham a nacionalidade alemã para o Canadá e para a Austrália.
Alguns anos após a guerra, R’Elias encontrou um amigo que havia sido enviado da Inglaterra para a Austrália. Ele contou que algo incrível aconteceu durante a guerra. Do nada, uma mala cheia de Guemarot chegou na Austrália, sendo os únicos livros disponíveis para eles estudarem em todo o país!
Rabi Nachum de Tchernobil dedicava boa parte de seu tempo redimindo judeus de prisões em regimes anti-semitas. Ele viajava de um lugar ao outro angariando fundos para realizar o pagamento necessário para libertar os prisioneiros. Uma vez, quando estava na cidade de Zhitomir, algumas pessoas o caluniaram, conseguindo colocá-lo na prisão.
Uma das pessoas que foram visitá-lo na prisão disse a ele, “Nosso patriarca Avraham era o exemplo de como fazer bondade com estranhos. Ele convidava para sua casa pessoas que estavam viajando e desprendia grandes esforços para que seus hóspedes se sentissem comfortáveis. Ele sempre procurava saber o que mais poderia fazer para agradá-los. Hashem disse para ele sair de sua casa paterna, de onde nasceu, e de sua terra. Somente agora, quando ele estivesse experenciando pessoalmente o que é ser um estranho num lugar desconhecido, teria uma melhor perspectiva do que poderia fazer para ajudar seus hóspedes.”
“Similarmente contigo,” disse o visitante para ele. “Você é totalmente devotado nesta grande mitzvá de libertar prisioneiros. Dos Céus está lhe sendo dada a oportunidade de experenciar o que é ser mantido refém por inimigos do nosso povo. Isso lhe dará uma apreciação mais profunda ainda da necessidade de realizar todo o possível para libertar outras pessoas no futuro, o mais rápido possível. (Mimaianót Hanetzach)
Há uma pergunta aqui: Em todas as ações de chessed (bondade) que Avraham realizou com os três convidados, utilizou de abundância. Tanto em relação ao pão, à carne, à manteiga e leite, ele serviu em grande quantidade. Por quê então, justamente em relação à água está escrito que ele pediu para que lhe trouxessem apenas um pouco d’agua?
Nossos Sábios dizem no Talmud (Baba Metzia 86a) que tudo que Avraham Avinu fez para seus convidados pessoalmente, Hashem fez para Bnei Israel pessoalmente; e tudo que Avraham Avinu fez atráves de outra pessoa, Hashem também realizou com o povo judeu através de um emissário.
O Rav HaGaón Israel Salanter, de abençoada memória, foi uma vez convidado por um dos seus discípulos para passar a refeição noturna de Shabat em sua casa. O Rav Israel respondeu que antes de aceitar qualquer convite, tinha o costume de se interar do que haveria e de como seria conduzida a refeição na casa do anfitrião. O aluno então, começou a relatar, “Na minha casa cumprimos as leis com o maior rigor possível. A carne, por exemplo, é comprada por mim mesmo diretamente de um açougueiro muito temente à D-us. A cozinheira é uma senhora muito recatada, víuva de um grande Rabino e oriunda de ótima família. Fora isso, minha esposa entra com frequência na cozinha para supervisionar se está tudo sendo feito conforme o ritual casher. Nas noites de Shabat eu coordeno a refeição com muita pompa; entre um prato e outro, conversamos bastante sobre a parashá e outros assuntos de Torá. No decorrer da refeição também realizamos uma aula de leis judaicas, além de cantarmos várias músicas de Shabat até altas horas da noite.”
Após escutar todo o relato de seu aluno, Rav Israel aceitou o convite para a refeição noturna de Shabat, apenas com a condição de que a refeição não se estendesse por mais de duas horas. Sem alternativa, o aluno aceitou a condição do Rav e a refeição foi conduzida de forma apressada para ser completada dentro do prazo estipulado por R’ Israel.
Antes de terminarem a refeição, o anfitrião virou-se para o Rav Israel e perguntou, “Ensine-me meu mestre, por que toda esta pressa para completar a refeição? Houve algo errado em minha conduta?” R’ Israel não respondeu à pergunta e ao invés disso pediu para que fosse chamada a cozinheira viúva e disse a ela, “Me desculpe, minha senhora, por tê-la cansado, fazendo com que trouxesse um prato atrás do outro de forma apressada, diferente das demais semanas, como a senhora está acostumada.”
“Que nada seu Rabino, espero que o senhor seja muito abençoado,” respondeu a cozinheira, “quem dera que o senhor fosse convidado a passar todas as noites de Shabat nesta casa! Meu patrão está acostumado a terminar a refeição muito tarde, e após um dia inteiro de trabalho intenso, minhas pernas doem muito e quase não consigo mais ficar em pé quando a refeição finalmente acaba. No entanto, hoje, graças ao Rabino, poderei ir para casa mais cedo e descansar.”
A Parashat Vaierá é o paradigma da mitzvá de achnassat orchim (hospitalidade). Avraham, nosso Patriarca, destacou-se nesta mitzvá. Ele era um mestre da bondade e um anfitrião por excelência. Rav Nissan Alpert zt"l ofereceu um belo ensinamento, derivado de nossa Parashá, a partir da história de Avraham.
Rashi cita o ensinamento Rabínico que diz que Hashem providenciou um sol escaldante, naquele que era o terceiro (e mais doloroso) dia após o brit-milá de Avraham, para que não houvesse ninguém caminhando nas estradas. Desta forma, Avraham poderia descansar e se recuperar da cirurgia realizada. No entanto, Avraham estava angustiado por não ter convidados em sua tenda, e então Hashem enviou três anjos sob a aparência de árabes. Anjos são seres completamente espirituais que não precisam de comida, e de fato não podem comê-las. Portanto, eles fingiram estar comendo a comida que Avraham lhes serviu.
Se Avraham estava tão aflito, a ponto de fazer Hashem "alterar Seus planos" e enviar hóspedes para que ele pudesse alimentá-los, por que então Hashem enviou anjos que não podiam comer? Hashem poderia tornar o clima mais ameno, fazendo com que pessoas de carne e osso caminhassem pelas estradas e, inevitavelmente alguém com fome passaria perto da casa de Avraham e ele o convidaria para sua casa para uma refeição. Isto seria mais lógico do que deixar Avraham se esforçar desnecessariamente preparando uma suntuosa refeição para os anjos, e estes apenas fingirem estar comendo!
Daqui aprendemos um conceito fundamental relacionado à hospitalidade. Ao contrário do que possamos pensar, a achnassat orchim não é uma mitzvá apenas benéfica para os convidados ou para uma pessoa pobre. Pelo contrário, ela é uma mitzvá para o benefício do anfitrião. A mitzvá é dirigida ao doador e não a quem a recebe.
O Midrash diz que mais do que o anfitrião faz pelos seus convidados, os convidados realizam pelo anfitrião. Hashem tem Seus caminhos em relação à caridade e atos de bondade. Se alguém precisa de comida, Hashem vai fazer com que ela chegue à ele. Se um indivíduo ou uma instituição necessitam de dinheiro, Hashem vai providenciar o necessário para eles. Ele tem seus caminhos. A única questão é quem terá o mérito de realizar a caridade.
É por esse motivo que a primeira vez que o conceito de achnassat orchim aparece na Torá, vem relacionado à recipientes que não a necessitavam, para nos mostrar que o anfitrião deve sempre se lembrar que é ele quem precisa da mitzvá. Ele não deve pensar que está realizando um grande favor para seus convidados, pois no final das contas ele está realizando um favor para si mesmo.
Quando jovem, Rabi Mordechai Pogramansky já era reconhecido como um gaón e tzadik em todos os centros de estudo de Torá na Lituânia, e tinha uma grande influência sobre todos que o cercavam.
Certa vez, quando viajava de trem, escutou um passageiro que estava ao seu lado exclamar,"Ah, não! Perdi minha parada! Eu sou um mohel e preciso verificar um bebê. Agora terei que soltar na próxima estação e tomar outro trem na direção contrária, e isto vai tomar muito tempo. Estou perdido!
Reb Mordechai disse ao homem, "A Torá nos conta que quando Hagar saiu da casa de Avraham, após ter sido mandada embora de lá por ele, ela se perdeu no deserto de Beer-Sheva. Rashi explica o sentido da expressão "se perdeu" como sendo que ela retornou à idolatria. Por quê Rashi não estava satisfeito com o significado literal da palavra "vateisá" – "se perdeu" – que ela simplesmente não conseguiu encontrar seu caminho?
A resposta é que um Judeu temente à Hashem sabe que ele nunca está "perdido", pois Hashem está sempre com ele. Se ele parece ter perdido seu caminho, então ele pode estar certo de que Hashem queria que isso acontecesse. Se Hagar 'se perdeu', então obviamente ela não vivia mais seguindo os caminhos que lhe ensinaram na casa de Avraham."
O trem então parou na próxima estação e as portas se abriram. Na plataforma havia um homem gritando, "Minha esposa deu à luz a um menino há oito dias atrás e nós precisamos de um mohel para realizar o brit-milá. Por acaso alguém conhece um mohel ....?"
(Rabi Shimon Finkelman – Living the Parasha)